Loucuras da Anna

Um tempo atrás eu li por aí uma frase que me deixou intrigada. "É preciso se perder para se encontrar". Eu pensei: Como eu poderia perder a mim mesma? Estou aqui não é? Bem dentro de mim, presa, enraizada, completamente aqui. Na época que pensei isso, estava segura. Não segura de estar com um amor correspondido, não segura de propriamente feliz, muito menos no lugar "certo" para mim. Mas estava segura no tipo de segurança que só a paixão pode dar. Na segurança da ilusão.

Mas aí meu mundo meio que caiu. Sabe aquele período pós-paixão? Aquele período chato, em que tudo, até quem é sua mãe, se torna questionável e frágil? Pois é. Eu me perdi de mim mesma. Me distanciei das minha amigas. Dos meus colegas. Até daquele carinha que não era meu "amor", mas poderia ser alguém considerável. Enfim, me esqueci de quem eu era, meus objetivos, dos estudos, de tudo. Ia à cada festa. Paquerava quem eu não conhecia, e me joguei de cabeça em lances de uma noite só. Queria provar ao meu ex-amor que não precisava dele. Que era feliz sem ele.

E eu fui feliz? Absolutamente não. E, um dia, quando eu me arrumava pra uma festa, eu encarei aquela imagem no espelho. Bronzeada - graças à várias camadas de pó bronzeador -, de lápis preto, delineador, sombra marcante. E havia coisas erradas com a roupa também. Desde quando eu usava saia de cintura alta justa? Com uma blusa de renda fininha? Eu não me reconhecia mais. Olhei a menina no fundo do quarto. Onde diabos minha melhor amiga havia se metido? Ela não era aquela menina popular e fútil na minha frente. Não, senhor! E, então, aconteceu.

Eu me olhei de novo no espelho. Peguei o demaquilante - sob os protestos da minha "nova" melhor amiga - e retirei tudinho. Depois, apenas passei um leve traço de delineador e batom vermelho. Isso. Aquela ali era eu. Tirei a saia e tratei de pôr um short com spikes. E um all-star. Já sou alta, não preciso de 15cm a mais.

E disse não à festa de arromba. Fui num churrasco, na casa de um amigo muito, muito antigo.

E foi assim, num certo dia quente e úmido de dezembro, que eu me encontrei.