Loucuras da Anna

Eu levantei os olhos, mas os abaixei o mais rápido que pude. Você estava me encarando, isso eu sabia. Mas nenhum dos dois queria se arriscar a dar um "Oi". Nenhum dos dois queria arriscar-se a um vácuo, ou um momento constrangedor. Não queríamos nós arriscar ao túnel do tempo que aquela conversa poderia nos levar.
Você manteve o olhar, provavelmente me convidado a continuar a sessão Encaratória. Eu desviei por lado e contei pra minha colega alguma piada boba com o nome do Volverine. Quando o observei novamente, seu olhar tinha se perdido em meio ao quadro negro, onde o professor explicava aquela matéria de física que nós não estávamos a fim de aprender.
Já faz tanto tempo, não é? Quase um mês. Nos conhecemos numa roda de amigos onde a conversa fluiu fácil, alegre e leve. Depois disso, te vi uma ou três vezes na rua, e nós nos cumprimentávamos mutuamente. Depois, acenávamos. E então nem isso. Podíamos nos esbarrar na rua que nenhum dos dois fazia menção de reconhecimento pro outro.
E, através da janela, observando esse dia nublado e frio do que deveria ser o verão, venho pensado em como estamos agindo. Como dois estranhos.